14 de agosto de 2007

O morro dos ventos uivantes

"Gozava eu de um mês de bom tempo à beira-mar, quando travei relações com a mais fascinante das criaturas, para mim uma verdadeira deusa, tanto que nem conhecimento tomou de minha pessoa. "Nunca lhe confessei meu amor" de viva-voz. Mas se os olhos falam, o mais simplório dos imbecis poderia verificar que eu estava completamente louco de amor. Ela por fim compreendeu e por sua vez me lançou um olhar... o mais doce de todos os olhares imagináveis. Que fiz eu? Confesso-o para vergonha minha... encolhi-me friamente na minha timidez, como um caracol. A cada olhar, recolhia-me mais frio e mais distante, até que afinal a pobrezinha começou a duvidar de seus próprios sentidos, e, acabrunhada de confusão pelo seu suposto engano, persuadiu sua mamãe a mudar de pouso. Por causa deste curioso feitio meu, criei reputação de crueldade intencional, aliás, bem injusta, como só eu mesmo posso julgar."

BRONTË, Emily. 1818-1848. O morro dos ventos uivantes / Emily Brontë; tradução de Oscar Mendes. - São Paulo: Abril Cultural, 1979.

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