12 de julho de 2012

Diário de um Velho Louco

"Creio que o fenômeno seja comum à maioria dos idosos, mas a verdade é que, nos últimos tempos, nenhum dia se passa sem que eu não pense em minha própria morte. Não só nos últimos tempos, porém, no meu caso. Eu pensava nisso desde muito antes, desde a época em que eu tinha os meus vinte anos, mas a recorrência do pensamento é tão grande, atualmente, que impressiona. 'Pode ser que eu morra hoje', imagino cerca de duas ou três vezes ao dia. A ideia não vem necessariamente acompanhada de medo. Na minha juventude, vinha associada a uma intensa sensação de pavor. Agora, porém, chega a me proporcionar certo prazer. Em compensação, fico imaginando pormenorizadamente as cenas que se seguirão à minha morte. O velório, por exemplo, não será realizado no cemitério Aoyama: o caixão deverá ser depositado naquele aposento de dez tatami voltado para o jardim. O arranjo provar-se-á prático, pois as pessoas poderão entrar pela porta dos fundos, passar pela casinha de chá e pelo portãozinho que se abre para ela e, pisando as lajes que formam uma trilha no jardim, alcançando o aposento e ali queimar incensos. Que não me toquem as estridentes flautas e flajolés do cerimonial xintoísta".

TANIZAKI, Junichiro, 1886-1965. Diário de um Velho Louco (Futen Rijin Nikki), Japão, 1962.