4 de março de 2015

O Planeta do Sr. Sammler

"- Parece um pouco maluco, mas, na realidade, trata-se de um negócio verdadeiramente bom. Pretendo, pessoalmente, participar da experiência, porque acho que tenho uma grande capacidade como vendedor. Posso dizer isso em meu favor e sem vergonha. Se a coisa der certo, cuidarei de organizá-la em em dimensões nacionais, com vendedores em todas as partes do país. Necessitaremos de especialistas regionais para o mapeamento. Os problemas serão diferentes em Portland, Oregon, em Miami Beach ou Austin, no Texas. 'É próprio do homem querer saber'. Isso é a primeira frase da Metafísica de Aristóteles. Nunca cheguei mais além, mas imagino que o resto deve ser um pouco antiquado, de qualquer maneira. Mas, já que querem saber, ficam deprimidos quando não conseguem citar os nomes dos arbustos que crescem nas suas propriedades. Sentem-se como seres fictícios, pois que os arbustos lhes pertencem. Estou convencido de que só o fato de conhecer o nome das coisas já anima essas pessoas. Procurei psicanalistas durante anos e o senhor acha que conseguiram curar-me de seja lá o que for? Nada disso, apenas colocaram etiquetas, deram nomes aos meus problemas, o que soa como conhecimento. Não deixa de ser um grande conforto e vale bem o dinheiro que se gasta. Você diz 'Eu sou um maníaco' ou ainda 'Eu sou um depressivo reativo'. Pode também dizer a respeito de um problema social 'Isso é colonialismo'. Aí, então, o mais estúpido cérebro parece transformado numa brasa, cujas fagulhas acabam por deixar você louco da vida. É maravilhoso. O sujeito pensa que se tornou um homem novo. Bem, o caminho para a riqueza e o poder é segurar-se firme nessas coisas."

BELLOW, Saul, 1915-2005. O Planeta do Sr. Sammler (Mr. Sammler's Planet), EUA, 1970.