20 de outubro de 2009

Qualquer Ferro Velho

"O próprio governador de Gibraltar lhe dissera que não era coisa que se fizesse beber com estranhos em bares estrangeiros e depois apunhalá-los em vielas escuras. Mesmo na guerra total tinha-se de respeitar as regras do jogo. Então havia uma diferença, havia, entre guerra e assassinato? Certamente que sim. A essência da guerra moderna era que você matasse à distância, anonimamente e sem animosidade imediata. Você matava, ou ordenava que matassem com espírito generoso, e sustentava a generosidade de espírito por não ter consciência direta da agonia e posterior desaparecimento de sua vítima. A história da guerra, como da própria civilização, da qual a guerra era um aspecto, era a história de um crescente distanciamento e anonimato. Será que o sargento Jones pensava que as valentes tripulações dos bombardeiros de saturação que tão poderosamente esmigalharam casas de velhos e enfermeiras de maternidades seriam capazes de continuar suas missões heróicas se realmente testemunhassem os seres humanos em vez dos resultados estratégicos de suas devastações?"

BURGESS, Anthony, 1917-1993. Qualquer Ferro Velho (Any Old Iron), Inglaterra, 1987.