14 de junho de 2012

Naomi

"Mas essa é a questão. Não conseguia entender por que Antônio se apaixonara por uma mulher tão sem coração. E não era apenas Antônio; antes dele, o grande Júlio César se arruinara envolvendo-se com Cleópatra. Há muitos outros exemplos. Quando se examina as grandes brigas de família do período Tokugawa, ou a ascensão e queda dos estados, sempre se encontra, sempre, as manhas de uma terrível sedutora, por trás de tudo. Ora, será que essas manhas são articuladas de maneira tão engenhosa, tão astuta, que qualquer um se deixaria levar por elas? Acho que não. Por mais ardilosa que fosse Cleópatra, é pouco provável que seus expedientes fossem mais férteis que os de César ou Antônio. Quando um homem está alerta, não precisa ser um herói para perceber se uma mulher é sincera e se está dizendo a verdade. Um homem que se deixa iludir, mesmo quando sabe que está destruindo a si mesmo, é apenas demasiado pusilânime. Se este foi, realmente, o caso de Antônio, então não há nada tão maravilhoso nos heróis... Esses eram meus pensamentos secretos, na ocasião, e aceitei o julgamento do meu professor, de que Marco Antônio era 'o alvo de riso dos séculos', 'o maior tolo da história'."

TANIZAKI, Junichiro, 1886-1965. Naomi (Chinjin no Ai), Japão, 1924.