31 de maio de 2011

Esculpir o Tempo

"Não consigo entender de modo algum o problema da 'liberdade' ou 'falta de liberdade' de um artista. Ele nunca é livre. A nenhum grupo de pessoas falta mais liberdade. O artista está preso ao seu dom, à sua vocação. Por outro lado, ele é livre para escolher entre expressar seu talento da maneira mais plena que puder, ou vender sua alma por trinta moedas de prata. A frenética busca de Tosltoi, Dostoievski e Gogol não foi estimulada pela consciência que tinham de sua vocação e do papel que lhes estava destinado? Também estou convencido de que nenhum artista trabalharia para cumprir sua missão espiritual se soubesse que sua obra jamais seria vista por alguém. Ao mesmo tempo, porém, sempre que estiver trabalhando, ele deve colocar um véu entre ele e as outras pessoas, para se proteger contra a abordagem de temas genéricos, vazios e triviais. Pois a concretização das possibilidades criativas de um artista só pode ser obtida através da honestidade e sinceridade totais, aliadas à consciência de sua própria responsabilidade para com os outros."

TARKOVSKI, Andrei, 1932-1986. Esculpir o Tempo (Die Versiegelte Zeit), Rússia, 1986-1987.

3 de maio de 2011

Admirável Mundo Novo

'' Mãe, monogamia, romance. A fonte jorra bem alto; o jato é bravio e espumante. O ardor só tem uma saída. Meu amor, meu filhinho. Não admira que esses pobres pré-modernos fossem loucos, perversos e miseráveis. Seu mundo não lhes permitia a tranquilidade, a sanidade mental, a virtude e a felicidade. Com as mães e as amantes, com as proibições que não estavam condicionados a obedecer, com as tentações e os remorsos solitários, com todas as doenças e a infindável dor que os isolava, com as incertezas e a pobreza - estavam condenados aos sentimentos fortes (e fortes principalmente na solidão, no desesperador isolamento individual), como poderia ser estável?''

HUXLEY, Aldous Leonard. 1894-1963. Admirável Mundo Novo / Aldous Huxley; tradução de Felisberto Albuquerque. São Paulo: Abril Cultural, 1980, pág. 65.