29 de abril de 2009

A religiosa

"Fazer voto de pobreza é dedicar-se por juramento a ser preguiçoso e ladrão; fazer voto de castidade é prometer a Deus a infração constante da mais bela e mais importante de suas leis; fazer voto de obediência é renunciar à prerrogativa inalienável do homem, a liberdade. Quando se observam esses votos, é-se criminoso; quando não se observam, é-se perjuro. A vida claustral é a de um fanático ou a de um hipócrita".

DIDEROT, Denis. 1713-1784. A religiosa. França: 1796.

6 de abril de 2009

A República

"Sócrates - Exatamente por isso os homens honestos não querem assumir o governo nem por dinheiro nem por honrarias. Na realidade, não querem ser considerados mercenários que exigem abertamente um salário, nem querem ser considerados ladrões ao tirá-lo de modo secreto de seu encargo. Como não são ambiciosos, não querem também governar pelas honrarias. Para induzí-los a isso, é preciso forçá-los e puní-los. Isso decorre talvez do fato de achar desonroso chegar ao poder por própria iniciativa, sem esperar ser compelido a isso. Mas o castigo supremo consiste em ser governados por quem é moralmente inferior, no caso em que o cidadão honesto não queira assumir o poder. É o temor desse castigo que, segundo minha opinião, impele os melhores a governar, se necessário. E então eles chegam ao poder não como em direção a alguma coisa de bom, nem para nele permanecer comodamente, mas como em direção a um dever inevitável, porque não podem confiar suas funções a pessoas melhores ou pelo menos iguais a eles. Se o Estado fosse composto de homens honestos, talvez haveria uma corrida para não governar, exatamente ao contrário do que acontece agora. Assim, seria evidente que o verdadeiro governante não visa por natureza seu interesse pessoal, mas o dos súditos. Todo homem sensato, porém, preferiria receber vantagens de outros, do que empenhar-se ele próprio para o interesse de outrem. De qualquer modo, não admito de maneira alguma que a justiça, como diz Trasímaco, seja o interesse do mais forte. Este ponto, contudo, o veremos melhor a seguir. Parece-me muito mais importante o que Trasímaco disse há pouco, isto é, que a existência do homem injusto é melhor do que aquela do justo. E você, Glauco, que tese escolheria? Qual das duas lhe parece mais verdadeira?"

PLATÃO. 428/27–347 a.C. A República. São Paulo: Editora Escala, 2007.

2 de abril de 2009

Elingoso Hidalgo Don Quixote De La Mancha

"Yace aquí el hidalgo fuerte
que a tanto extremo llegó
de valiente, que se advierte
que la muerte no triunfó
de su vida con su muerte.

Tuvo a todo el mundo en poco,
fue el espantajo y el coco
del mundo, en tal coyuntura,
que se acreditó su ventura
morir cuerdo y vivir loco."

"Jaz aqui o fidalgo forte
que a tal denodo chegou
que se descubra e se exorte
que a morte não triunfou
de sua vida com sua morte.

Teve o mundo inteiro em pouco;
foi o espantalho e o coco
do mundo, em tal conjuntura,
que abonou sua aventura
morrer cordo e viver louco."

CERVANTES, Miguel De. 1547-1616. Elingoso Hidalgo Don Quixote De La Mancha. São Paulo: Real Academia Española / Asociación de Academias de la Lengua Española, 2004.