5 de agosto de 2010

A Mulher de Trinta Anos

"Entregue a si mesma, a marquesa pôde, pois, permanecer perfeitamente silenciosa em meio ao silêncio que estabelecera em volta de si, e não teve ocasião para sair do quarto forrado de tapeçarias onde falecera sua avó, e onde se recolhera para morrer suavemente, sem testemunhas, sem importunações, sem sofrer as falsas demonstrações dos egoísmos mascarados de afeição que, nas cidades, causam aos moribundos uma dupla agonia. Essa mulher tinha vinte e seis anos. Nessa idade, uma alma ainda cheia de ilusões poéticas encontra prazer em saborear a morte, quando ela se afigura benfazeja. Mas a morte é uma sedutora falaz das pessoas jovens; aproxima-se e recua, mostra-se e esconde-se; a demora desilude-as dela, a incerteza que lhes causa o amanhã termina por lançá-las de novo no mundo, onde tornarão a encontrar a dor que, mais impiedosa que a morte, há de feri-las sem fazer esperar. Ora, essa mulher que se recusava a viver ia sentir a amargura dessa demora no fundo de sua solidão, e nesta fazer, numa agonia moral que a morte não terminaria, uma terrível aprendizagem de egoísmo que devia corromper-lhe o coração e amoldá-lo à sociedade."

BALZAC, Honoré de, 1799-1850. A Mulher de Trinta Anos (La Femme de Trente Ans), França, 1834.

2 comentários:

Nilson Vellazquez disse...

Sou fã de Balzac!

Bury disse...

Ando obcecado por Balzac... Em pouco mais de um mês, já estou terminando o quinto livro. Acredito que ainda pinte mais coisas do homem por aqui!