14 de setembro de 2009

Os Buddenbrook

"A consulesa, apoiada em várias almofadas, encontrava-se de costas. As mãos, essas belas mãos, entremeadas por veias de um azul pálido, e que agora pareciam tão magras, definhadas por completo, acariciavam a colcha, incessante e apressadamente, numa precipitação trêmula. A cabeça, coberta por uma touca branca, virava-se sem interrupção, em horripilante ritmo pendular. A boca, cujos lábios pareciam ser puxados para dentro, abria-se e fechava-se bruscamente, a cada uma das penosas tentativas de respiração. Os olhos encovados vagavam em busca de socorro, para, de quando em vez, se fitarem com expressão comovente de inveja numa das pessoas presentes que estavam vestidas e podiam respirar, que pertenciam à vida e que nada mais sabiam senão fazer o sacrifício amoroso de manter o olhar cravado nesse quadro. E a noite avançava sem que houvesse uma alteração."

MANN, Thomas, 1875-1956. Os Buddenbrook (Decadência Duma Família), Alemanha, 1901.

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