2 de setembro de 2011

O Coração das Trevas

"No entanto, como podem ver, não fui juntar-me ao Sr. Kurtz. Não fui mesmo. Fiquei para sonhar o pesadelo até o fim e mostrar minha lealdade a ele uma vez mais. Destino. Meu destino! Coisa engraçada é a vida - misterioso arranjo de lógica implacável para um propósito fútil. O máximo que você pode esperar dela é algum conhecimento de si próprio... que chega tarde demais... uma colheita de inesgotáveis arrependimentos. Eu hava lutado com a morte. É o combate mais desinteressante que se pode imaginar. Acontece numa impalpável zona cinzenta, com nada sob os pés, nada ao redor, sem espectadores, sem clamor, sem glória, sem o grande desejo de vitória, sem o grande medo da derrota, numa atmosfera doentia de tépido ceticismo, sem muita fé em nossos próprios direitos, e menos ainda nos do seu adversário. Se tal é a forma da última e definitiva sabedoria, então a vida é um quebra-cabeça muito maior do que alguns de nós supõem que seja. Eu estava a milímetros da minha última oportunidade para fazer um pronunciamento, e descobri, com humilhação, que provavelmente não teria nada para dizer. Essa é a razão pela qual afirmo que Kurtz foi um homem notável. Ele tinha algo a dizer. E disse."

CONRAD, Joseph, 1857-1924. O Coração das Trevas (The Heart of Darkness), Inglaterra, 1902.

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