9 de abril de 2011

Os Prêmios

"Sentados em torno da mesa, Paula e Raúl estavam ao mesmo tempo do outro lado do espelho; quando sua voz se misturava aqui e ali com a deles, era como se um elemento excêntrico penetrasse na ampla esfera de suas vozes, que dançavam, levemente enlaçadas, agarrando-se e soltando-se alternadamente no ar. Poder trocar de lugar com Raúl, ser Raúl sem deixar de ser ele mesmo, correr tão cegamente e tão desesperadamente que o muro invisível se despedaçasse e o deixasse entrar, recolher todo o passado de Paula num só abraço que o colocasse a seu lado para sempre, possuí-la virgem, adolescente, jogar com ela os primeiros jogos da vida, aproximar-se assim da juventude, do presente, do ar sem espelhos que os rodeava, entrar com ela no bar, sentar à mesa com ela, cumprimentar Raúl como a um amigo, falar o que estavam falando, olhar o que olhavam, sentir nas costas o outro espaço, o futuro inconcebível, mas que todo resto fosse deles, que esse ar de tempo que os envolvia agora não fosse o borbulhar irrisório rodeado de nada, de um ontem onde Paula era de outro mundo, de um amanhã onde a vida em comum não teria forças para atraí-la inteiramente a ele, fazê-la realmente e para sempre sua".

CORTÁZAR, Julio, 1914-1984. Os Prêmios (Los Premios), Argentina, 1969.

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