6 de abril de 2009

A República

"Sócrates - Exatamente por isso os homens honestos não querem assumir o governo nem por dinheiro nem por honrarias. Na realidade, não querem ser considerados mercenários que exigem abertamente um salário, nem querem ser considerados ladrões ao tirá-lo de modo secreto de seu encargo. Como não são ambiciosos, não querem também governar pelas honrarias. Para induzí-los a isso, é preciso forçá-los e puní-los. Isso decorre talvez do fato de achar desonroso chegar ao poder por própria iniciativa, sem esperar ser compelido a isso. Mas o castigo supremo consiste em ser governados por quem é moralmente inferior, no caso em que o cidadão honesto não queira assumir o poder. É o temor desse castigo que, segundo minha opinião, impele os melhores a governar, se necessário. E então eles chegam ao poder não como em direção a alguma coisa de bom, nem para nele permanecer comodamente, mas como em direção a um dever inevitável, porque não podem confiar suas funções a pessoas melhores ou pelo menos iguais a eles. Se o Estado fosse composto de homens honestos, talvez haveria uma corrida para não governar, exatamente ao contrário do que acontece agora. Assim, seria evidente que o verdadeiro governante não visa por natureza seu interesse pessoal, mas o dos súditos. Todo homem sensato, porém, preferiria receber vantagens de outros, do que empenhar-se ele próprio para o interesse de outrem. De qualquer modo, não admito de maneira alguma que a justiça, como diz Trasímaco, seja o interesse do mais forte. Este ponto, contudo, o veremos melhor a seguir. Parece-me muito mais importante o que Trasímaco disse há pouco, isto é, que a existência do homem injusto é melhor do que aquela do justo. E você, Glauco, que tese escolheria? Qual das duas lhe parece mais verdadeira?"

PLATÃO. 428/27–347 a.C. A República. São Paulo: Editora Escala, 2007.

Um comentário:

Nilson Vellazquez disse...

Muito bom esse blog! Vi na comuniade de Teoria da Literatura!